terça-feira, 13 de abril de 2010

Fora de casa II

Saiu de casa com os olhos e as pupilas bem abertas, embora no céu despontasse um sol de quase duas. Pareciam duas jóias pretas cintilantes, a observar o mundo novo que se lhe apresentava.

Parecia tudo a mesma merda de sempre, mas o que o embasbacava era o modo como encarava as coisas. Começou a ficar de cara com os anúncios e outdoors que via pela frente. Caminhando em cima daquela faixinha amarela que divide os carros que vem e que vão e olhando para aquelas imensas placas de compensado, sentiu-se desconfortável. De deslumbrado o seu rosto foi se franzindo em rugas pela testa, até ficar semelhante às expressões de dias em que foi chutado embora do trabalho por beber demais e acabar acordando com o despertador do celular já avançado nos sonecas, em um algum lugar que não se achava na memória.

Estava a beira de uma das piores bad trips que já tinha sentindo, mesmo ainda não sentindo ele sabia disso. Ficou ofegante, transtornado, desconcertado. O pavor começou a subir pela suas pernas como se tivesse pisado em um formigueiro, e sua visão foi ficando escura. Fechou os olhos e tentou se concentrar em sua respiração. Já tinha passado por isso antes e saído de boa, mas nunca tinha sentido assim tão forte.

Então foi tudo se acalmando. As buzinas nervosas foram diminuindo o volume. O calor infernal deu lugar para uma brisa matinal.