domingo, 25 de dezembro de 2011

Delírios do real

Ok, você tem figos; chester ou peru; ou os dois; ou aquela aberração da genética moderna , o tal do bruster; champagne, refrigerante, uvas passas e panetone, não necessariamente no mesmo corpo; farofa, uma árvore estranha coberta de neve artificial, parentes distantes, euforia momentânea e silêncios contragedores. Você pode não ter tudo issso; mas talvez se identifique com os fogos de artifício e essa artificialidade até certo ponto confortável e segura, mas que de vez em quando te acerta uma agulhada e você finge que não sentiu nada. E ele vem chegando, você sente o seu cheiro , você vê sua sombra a se esgueirar por entre os natais passados. Você sabe que  está ali mas que não é bem vindo, porém, inevitável quanto o encontro dos dois ponteiros no doze e o seu arrasstar pelo infinito. Papai Noel o caralho! Tô falando do vazio! É; o Vazio. Então se pega pensando o porquê de tudo aquilo, e não acha nada que satisfaça.
Mas o pior não é o vazio que se sente com tudo isso à sua volta; pior é saber que tem gente que tem o mesmo vazio, mas na barriga. 

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Além

Hoje, passando pela Redenção, mergulhado em pensamentos tristes, num daqueles bancos verdes próximos ao espelho d'água, eu vi uma cabeça. Mirava o além, que parecia mais longe do que de costume. Levantei aquela bela cabeça pelos cabelos e olhei no fundo raso de seus olhos. Nada. Deixei com cuidado onde estava e segui caminhando; invejando o seu não-pensar e tendo pena da sua falta de corpo.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Vale?

De que vale tudo isso? Toda essa dor de mundo, se ela não faz sangrar? Ela não faz sentir na carne...
Se enterrar em livros , (ou apenas frases de alguns livros famosos) se é pra ficar soterrado , sem respirar?
Se encantar com as maravilhas da comunicação sem limite(?) se ela não passa de encantamento... passa, como uma paixão passa...
Com representações de vida, quando elas são mais artificiais que a própria sina da vida... fazer para mostrar...
Obrigação de ser, mas não ser realmente,  ser para os outros, e para isso basta parecer ser...
Emoldurar a Loucura e deixá-la pendurada em uma parede de destaque em sua casa cuidadosamente decorada, então você olha para ela do alto de sua torre de observação e se pergunta, "onde ela está?"...
A ciência que deixa tudo frio; as mãos do cirurgião são firmes e precisas, o olhar do sociólogo é frio e calculista, catalogador, e o coitado do louco matemático, que para produzir precisa aplicar sua Loucura em alguma coisa que pareça real... economistas que regem a maior parte do mundo com suas leis que parecem ser as leis que a natureza criou, e todos caem nas suas abobrinhas... a doença que é o lucro da indústria farmacêutica, nessa sim há interesse... Quem é preparado para a Vida hoje? Hoje a Vida tem outros nomes... Mercado de Trabalho, Plano de Carreira, Realização Profissional, RH, Ginástica Laboral, Gerenciamento, Linha de Pesquisa... E nisso a Vida se esvai, se esvazia de Vida e se enche de reumatismos, miopia e astigmatismo, stress e monotonia, esperança de promoção, de trabalho reconhecido e devidamente recompensado... ele nunca será bem recompensado.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

avesso

Onde és doce;
eu sou o azedo que te corrói
Se és sal a temperar
sou o amargo que te faz chorar
Quando és rasa
eu sou o pico
Se voas alto;
queda livre
Foto viva e colorida;
negativo

Enquanto és flor num jardim sem fim
eu sou a sombra solitária de mim

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Manhã cinza

E então eu posso pegar essa bola de um monte de coisas e faze-la voar por essa janela fria, de dentro para fora. A umidade e o cheiro de mofo já me corroem a alma e pioram as coisas em tempos de inverno em baixo d'água. Posso escrever como Dali e pintar como Pessoa; mas nada adianta, que essa amargura do viver não cansa. Essa poética do frenesi instantâneo, as frases soltas de suas obras e a orelha do livro amassada, não fazem o sol nascer, nem ao menos esquentam meu café queimado. E o que dizer então da política falha dos desencontros? Da participação inoperante? Das correntes contra as correntes? Dos barcos virados para baixo, boiando num deserto infindável de areias infectadas? E dos caminhos que dão trabalho para escolher e no fim vão dar na mesma bosta? Sabe-se lá também se tivesse escolhido outra coisa... No fim, é a morte e todos são iguais. É talvez a única coisa em que todos são iguais. Da parede, me cuida com olhos de deboche o relógio inimigo. Maldita nuvem cinza que não vai embora pra curar meu mau humor.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Por que os artistas estão se candidatando a cargos políticos? Porque exige-se muito menos responsabilidade.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Talvez esse frio
te traga algum calor
A Primavera;
alguma alergia
Talvez o Verão
traga sopros de frescor
E no Outono
lhe toque a nostalgia

Desdemonial

Desde o nosso adeus
nada é como era
Nem antes , nem durante

Desde o nosso tombo
que eu não levanto mais

Desde aquela chuva
corro com medo d'água

Desde aquela briga
nem sei quem sou

Desde o nosso fim
que não encontro começo

quarta-feira, 30 de março de 2011

E lá estava ele;
me olhando no fundo da alma
olhei pra ele no momento em que ia embora
com receio que ele tinha de que eu não o percebesse
ia levantando vôo
espalhando a poeira de ilusões acumuladas
desistiu, por um pequeno instante
encarou
mas foi, mesmo assim
Veio lembrar-me de que sequer existe
que sua lógica é surreal
e não cabe no mundo mundano assim
de pessoas banais
Foi embora pra dizer que não é meu
nem de quem mais quiser
e só aparece quando se sabe disso
Muito tempo que eu não sentia sua presença
talvez porque eu o queria por perto;
ele não vinha
Talvez porque eu pensava que vivia num paraíso
quando ele voa exatamente nas correntes de conflito
Foi bom ter lembrado de sua inexistência existente



quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Resta o resto;
Um barco de papel
pétalas na bancada do escritório
Rosa morta e o barco seco
Resta tudo;
tudo que passou, tudo que viria
o sonhado e o vivido
Resta o gosto;
amargo de não amar o suficiente
o amor derretido que me resta
não ficará em boca alguma
Resta o vazio:
das palavras não ditas, das mal ditas, e as esquecidas
E a sensação
que talvez fosse melhor ser marinheiro
em que a despedida é certa e a volta é desejo