sábado, 23 de abril de 2016

Cortem as cabeças!
Essas, da direita?
Não, não... essas mais para a esquerda
Corto no pescoço?
Certo que sim! Onde mais cortaríamos para lhes arrancar a cabeça?
Corte com rapidez suficiente para que nem pense que estão morrendo
Corte, depois limpe as ideias pra que não emporcalhem as calcadas
E essas da direita?
Providencie um pano para lustrar suas carecas e coturnos
Liberte-os. Deixe as bestas andarem por ai a cuspir seu fogo
E as espancar os diferentes, trabalham para nós...

E esses aqui?
Jogue aos leões!
Com suas garras e dentes e câmeras
e luzes e maquiagens televisivas
vão devorá-los com prazer!
Prepare um jantar com a carne dos pretos e índios
Vamos receber convidados!
Brindaremos a vitória com champagne importado!

Crisis

A crise que afeta a crise que afeta a crise que afeta a crise que afeta minha vida
E a sua e a de todos...
é a morte do planeta.
é a crise de humanidade,
é a crise de consciência...
É a crise hidráulica
a crise da vergonha na cara
é a crise de pânico
a crise do sistema
a crise do capital
a crise dos recursos
a crise de sinceridade
a crise de identidade
a crise de inferioridade
a crise de superioridade
a crise das certezas
das mentiras
a crise das doenças humanas
a crise das matanças humanas
é a crise atômica
é a crise de câncer
é a crise do aquecimento global
a crise do Oceano morrendo todos os dias
É a crise de Fukushima
é a crise do permafrost
a crise do gás metano
e do carbônico
a crise da comunicação
a crise do ar.
É a crise da respiração
crise da memória
da criatividade
a crise do corpo preso à máquina

crises feitas por eles, que não estão em crise, ou pensam que não
eles inventam a crise do momento
que afeta a crise que afeta a crise que afeta a crise que afeta

domingo, 14 de junho de 2015


Liberte-se de todo ego, de toda vaidade, de toda certeza, de toda avareza,
desapegue, desconcentre, descontinue, rompa, quebre a corrente
A imagem de si mesmo, a crença no sucesso e no reconhecimento
a projeção catalisada, distorcida e bem sucedida; negue, enfrente, desvie...

Pare de tomar teorias como dogmas, o que elas têm de belo são suas imperfeições
as lacunas deixadas por pensamentos não concluídos, incompletos
eis os grandes propulsores da criatividade, a inabalável certeza de não ter certeza
Permita-se amar-se, entenda o erro, tolere o engano, perceba os tombos e contemple o voo sem direção, indeciso

Creia na descrença, descreia o impasse, você é iluminado, mas o sol é maior
Toque o céu com a ponta dos dedos, desfaça-se da estrutura fictícia, ela é um fantasma concreto
A fé nunca moveu montanhas, mas é indispensável para se chegar ao topo
Engane a si mesmo, se for em benefício próprio, quando não houver terceiros
nem quartos, nem sacadas preguiçosas ou escadas suicidas

Não ouça conselhos de outros em detrimento de seu autoconhecimento
Não dê importância ao que escrevo agora, são puros delírios internos
Não preencha-se, esvazie-se; não ouça para responder, apenas ouça
Não se cale, não se negue tanto
Não escreva tanto no imperativo
Não leia isso, pense
Ou não

segunda-feira, 29 de setembro de 2014



De dentro da cabine de leitura (uma escrivaninha fechada na frente e nos lados, de compensados pintados de cinza), fico pensando se é esse o último recurso desesperado para quem não consegue mais se aproximar de um texto acadêmico sem estar sob pressão de uma avaliação tradicional institucional.
Que bela paisagem! Eu admiro, em pensamento. Compensados em cores monótonas, concreto, canos, fios e luz produzidos com recursos não renováveis e altamente poluentes. Que sensibilidade que nos provoca essa linda visão! Deve ser assim que conseguiremos resolver qualquer problema:  nos fechando numa caixa e lendo tudo o que já foi dito, redito, reeditado, revisado, restaurado, criticado, reinventado, misturado e fatiado e um pouco melhor encaixado no quebra-cabeças inventado por nós mesmos. Saber sobre a verdade a mim me parece impossível embaixo de todos esses papeis.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A saída do bar,
o andar para algum lugar
Desse vez, o caminho foi silencioso
As vezes, isso é muito valioso!

Pode ser também horroroso,
quando o silêncio aperta
e alguma coisa de doloroso
algum riso desperta...

Ande sempre alerta!
Na rua, na noite
ou em qualquer lugar...
na esquina de casa ou de frente pro bar...

Cuidado! Cuidado ao mijar!
Não vai se molhar,
se por acaso ventar?

Não use a mesma mão que bebe
para fumar
Você pode enjoar
e o céu começa a girar...

Mas o caminho segue!
Siga vivo e dê no pé
no outro dia, a ressaca lembra:
Não faça drama; faça café!

sábado, 21 de junho de 2014

Bolhas, Bolhas , bolhas
e borbulhas...
borbulhas, barbatanas, borboletas
Burlescas bordas e bordões!

Bethânia Botânica 
a la Botticelli

Burrocrata Burro, 
boçal babaca
batendo biela
botando a boca 
na bela bunda

Bancando a banca
e bimbando a buça
Bascularizando a bola
e balançando a bomba

Bombando bumba meu boi 
e bambeando pelas beiradas

Bom, bom...
e os bancos, a bancarrota!
Ela me olhou no fundo da alma
com seus olhos azuis...
Eu não estava na batida certa...

Talvez ela não quisesse dançar
não ali, naquele momento

Mas no seguinte
sempre no depois
depois que recebesse o sinal
depois, quando estivesse melhor
depois de alguma coisa
depois...

Mas pouco importa...
Eu não estava na batida certa

Ela me olhou, nos meus sonhos mais secretos...
Viu meus momentos de euforia, de solidão, dislexia...
Me viu dançar sob a sombras da amargura e ser feliz com o pé na estrada

Um anjo mau, de olhos azuis me olhou no fundo da alma...
e eu não estava na batida certa...