segunda-feira, 29 de setembro de 2014



De dentro da cabine de leitura (uma escrivaninha fechada na frente e nos lados, de compensados pintados de cinza), fico pensando se é esse o último recurso desesperado para quem não consegue mais se aproximar de um texto acadêmico sem estar sob pressão de uma avaliação tradicional institucional.
Que bela paisagem! Eu admiro, em pensamento. Compensados em cores monótonas, concreto, canos, fios e luz produzidos com recursos não renováveis e altamente poluentes. Que sensibilidade que nos provoca essa linda visão! Deve ser assim que conseguiremos resolver qualquer problema:  nos fechando numa caixa e lendo tudo o que já foi dito, redito, reeditado, revisado, restaurado, criticado, reinventado, misturado e fatiado e um pouco melhor encaixado no quebra-cabeças inventado por nós mesmos. Saber sobre a verdade a mim me parece impossível embaixo de todos esses papeis.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A saída do bar,
o andar para algum lugar
Desse vez, o caminho foi silencioso
As vezes, isso é muito valioso!

Pode ser também horroroso,
quando o silêncio aperta
e alguma coisa de doloroso
algum riso desperta...

Ande sempre alerta!
Na rua, na noite
ou em qualquer lugar...
na esquina de casa ou de frente pro bar...

Cuidado! Cuidado ao mijar!
Não vai se molhar,
se por acaso ventar?

Não use a mesma mão que bebe
para fumar
Você pode enjoar
e o céu começa a girar...

Mas o caminho segue!
Siga vivo e dê no pé
no outro dia, a ressaca lembra:
Não faça drama; faça café!

sábado, 21 de junho de 2014

Bolhas, Bolhas , bolhas
e borbulhas...
borbulhas, barbatanas, borboletas
Burlescas bordas e bordões!

Bethânia Botânica 
a la Botticelli

Burrocrata Burro, 
boçal babaca
batendo biela
botando a boca 
na bela bunda

Bancando a banca
e bimbando a buça
Bascularizando a bola
e balançando a bomba

Bombando bumba meu boi 
e bambeando pelas beiradas

Bom, bom...
e os bancos, a bancarrota!
Ela me olhou no fundo da alma
com seus olhos azuis...
Eu não estava na batida certa...

Talvez ela não quisesse dançar
não ali, naquele momento

Mas no seguinte
sempre no depois
depois que recebesse o sinal
depois, quando estivesse melhor
depois de alguma coisa
depois...

Mas pouco importa...
Eu não estava na batida certa

Ela me olhou, nos meus sonhos mais secretos...
Viu meus momentos de euforia, de solidão, dislexia...
Me viu dançar sob a sombras da amargura e ser feliz com o pé na estrada

Um anjo mau, de olhos azuis me olhou no fundo da alma...
e eu não estava na batida certa...

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Talvez você se assuste 
pois posso falar de coisas reais
Não tão colorido
nem tão doce ou cheio de amor

Não serve de anestesia
pra cessar ou diminuir a dor
Nem carece de euforia
pra logo após virar torpor

O que eu falo pode machucar
como um tapa na cara
com sangue no ar

Não tem comida, não tem lar
Não tira foto, nem sabe dançar

Então tudo inunda
A crise é profunda
A vida adoece
Felicidade
Desaparece
... acontece

De manhã

- Quando voltarmos a nos entender
   pode ser tarde demais
Será que temos algum tempo a mais?
Posso matar algumas horas de trabalho hoje...

Mas não sei se quero... um sentimento de culpa cristã me assola...
O trabalho dignifica o homem, é o que dizem!
Mas eu não sou lá tanto homem assim
pra sair dessa cama e encarar a alvorada
se já tenho aqui
o meu verão

-Ora, não seja bobo!
Lave a cara com sabão
deixe de rimas piegas
e vá atrás do ganha pão

Esse negócio de escolher não é pra qualquer um

Vai! Sai logo dessa cama
que pra mim, não quero atraso!
Tenho coisas pra fazer
e você só traz embaraço!
Tchau!

Pra não dizer que sou cruel
Te ofereço café e um amasso.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

E ae! Está tudo bem?

As florestas pegam fogo
enquanto o Obamis bate uma
ouvindo minhas conversas no telefone
e manda beijos e sorrisos
pelas câmeras que me seguem por todas a ruas

Eu tenho que esperar os agentes da CIA
sairem do banheiro para que eu possa cagar
Eles estão disfarçados de padre e coroinha
O padre tem olhos de demônio
mas sabe acenar carinhosamente
e ensina metaliguística aos mestres de maçonaira
... o vaticano é campeão de baixar putaria
e andamos correndo para não sermos atropelados
pelos carros que aprenderam a se reproduzir
Hoje são a espécie que domina o planeta

Como veneno todos os dias
e ignoro os efeitos da transgenia
Talvez todos morreremos de câncer
e a água tá mais cara que a gasolina...

...Sim... Está tudo bem!

quinta-feira, 27 de março de 2014

Tempestades em copo d'água
são questões de ponto de vista
Pra quem tá no copo é um pesadelo
Pra quem bebe é coisa de artista

drama sem saber porquê
coisa muito pra inglês ver
mas pra quem sente, é a vera!
muito mais que a tal camisa amarela...

A sede cessa, o copo quebra
e a vida segue, mais água do que pedra


quarta-feira, 26 de março de 2014

alguns caminhos

Quem dera pudéssemos voar;
mas somos presos
Estamos presos por infinitas paredes de concreto e gesso
que se erguem pelas vontades atomizadas

Estamos presos por linhas de asfalto autoritárias
e somos obrigados a traçar caminhos cinzas
nessas cidades onde ninguém se encontra
e o próprio céu diminui a cada dia

Ninguém se encontra, somente passa
se fica, é porque teve alguma permissão
desse monstro que respira fuligem e tem veias de cobre e canos estourados
E quanto mais fica, mais perto está de ir embora

Nossos caminhos
são por onde não sei porque ainda chamam de 'público'
e todas as vielas, atalhos e becos,
se mostram com ar rebelde, na sujeira da resistência pelo chão

a pequena rebeldia que se mostra
no peito de quem ainda ousa manter o peito aquecido
é como a flor de Drummond
a esfacelar as milhares paredes e moléculas asfálticas

Milhões de flores a brotar
por entre qualquer brecha
procurando qualquer sol que ponteie entre os arranha-ceus
qualquer gota de água, no deserto sufocante

A qualquer hora, e eu lhe digo com certeza
vais achar melhor andar em algum lugar que não esse
Vai tropeçar em alguma raiz
e o princípio inversor das lógicas encontrará um campo fértil

Como um relâmpago na consciência
tudo se mostrará claro
e tudo em sua volta terá tons de absurdo
e a fila indiana de formigas planetárias lhe parecerá como o óbvio do óbvio

Só'