E então eu posso pegar essa bola de um monte de coisas e faze-la voar por essa janela fria, de dentro para fora. A umidade e o cheiro de mofo já me corroem a alma e pioram as coisas em tempos de inverno em baixo d'água. Posso escrever como Dali e pintar como Pessoa; mas nada adianta, que essa amargura do viver não cansa. Essa poética do frenesi instantâneo, as frases soltas de suas obras e a orelha do livro amassada, não fazem o sol nascer, nem ao menos esquentam meu café queimado. E o que dizer então da política falha dos desencontros? Da participação inoperante? Das correntes contra as correntes? Dos barcos virados para baixo, boiando num deserto infindável de areias infectadas? E dos caminhos que dão trabalho para escolher e no fim vão dar na mesma bosta? Sabe-se lá também se tivesse escolhido outra coisa... No fim, é a morte e todos são iguais. É talvez a única coisa em que todos são iguais. Da parede, me cuida com olhos de deboche o relógio inimigo. Maldita nuvem cinza que não vai embora pra curar meu mau humor.