Quero estar fazendo amor com você
quando esse prédio desmoronar.
Tudo está desmoronando. Caindo,
derretendo. Vira pó de estrelas. Poeira galáxica.
O leite derramado da via láctea, me
faz chorar de vez em quando.
Às vezes o vento abre as cicatrizes
que estavam quase curadas. A chuva lambe o rosto e disfarça as
lágrimas. Nada de novo; tudo de novo, como dando voltas e mais
voltas em um oito.
O asfalto distorce o horizonte e cria
poças de água que evaporam quando a gente chega perto. Não dá pra
beber. Mas teve uma que não sumiu. Quando tentei pisar, não havia
chão. Escorrego pelo limo até me ver envolto em água gelada. Lá
estou brincando coma as bolhas de ar. É um bom mergulho , pois
consigo respirar. Estou sonhando, e a descoberta disso não me faz
acordar. Eu vou ao fundo até ver a escuridão, com peixes de
lanterna no nariz e bocas de portão elevadiço. Dou uma subidinha,
deixo entrar um pouco de luz. Bem ao longe um vulto. Cresce rápido
demais, tenho medo. Um tubarão baleia curioso se aproxima. Ele vem
com algumas águas vivas lhe fazendo reverências em círculos para
ele passar. Só mais um homem perdido no mar, disse ele ao se
afastar.