quarta-feira, 26 de março de 2014

alguns caminhos

Quem dera pudéssemos voar;
mas somos presos
Estamos presos por infinitas paredes de concreto e gesso
que se erguem pelas vontades atomizadas

Estamos presos por linhas de asfalto autoritárias
e somos obrigados a traçar caminhos cinzas
nessas cidades onde ninguém se encontra
e o próprio céu diminui a cada dia

Ninguém se encontra, somente passa
se fica, é porque teve alguma permissão
desse monstro que respira fuligem e tem veias de cobre e canos estourados
E quanto mais fica, mais perto está de ir embora

Nossos caminhos
são por onde não sei porque ainda chamam de 'público'
e todas as vielas, atalhos e becos,
se mostram com ar rebelde, na sujeira da resistência pelo chão

a pequena rebeldia que se mostra
no peito de quem ainda ousa manter o peito aquecido
é como a flor de Drummond
a esfacelar as milhares paredes e moléculas asfálticas

Milhões de flores a brotar
por entre qualquer brecha
procurando qualquer sol que ponteie entre os arranha-ceus
qualquer gota de água, no deserto sufocante

A qualquer hora, e eu lhe digo com certeza
vais achar melhor andar em algum lugar que não esse
Vai tropeçar em alguma raiz
e o princípio inversor das lógicas encontrará um campo fértil

Como um relâmpago na consciência
tudo se mostrará claro
e tudo em sua volta terá tons de absurdo
e a fila indiana de formigas planetárias lhe parecerá como o óbvio do óbvio

Só'

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