Quem dera pudéssemos voar;
mas somos presos
Estamos presos por infinitas paredes de concreto e gesso
que se erguem pelas vontades atomizadas
Estamos presos por linhas de asfalto autoritárias
e somos obrigados a traçar caminhos cinzas
nessas cidades onde ninguém se encontra
e o próprio céu diminui a cada dia
Ninguém se encontra, somente passa
se fica, é porque teve alguma permissão
desse monstro que respira fuligem e tem veias de cobre e canos estourados
E quanto mais fica, mais perto está de ir embora
Nossos caminhos
são por onde não sei porque ainda chamam de 'público'
e todas as vielas, atalhos e becos,
se mostram com ar rebelde, na sujeira da resistência pelo chão
a pequena rebeldia que se mostra
no peito de quem ainda ousa manter o peito aquecido
é como a flor de Drummond
a esfacelar as milhares paredes e moléculas asfálticas
Milhões de flores a brotar
por entre qualquer brecha
procurando qualquer sol que ponteie entre os arranha-ceus
qualquer gota de água, no deserto sufocante
A qualquer hora, e eu lhe digo com certeza
vais achar melhor andar em algum lugar que não esse
Vai tropeçar em alguma raiz
e o princípio inversor das lógicas encontrará um campo fértil
Como um relâmpago na consciência
tudo se mostrará claro
e tudo em sua volta terá tons de absurdo
e a fila indiana de formigas planetárias lhe parecerá como o óbvio do óbvio
Só'
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