Difícil é ficar famoso por aqui. O pessoal faz de tudo. Literalmente tem que rebolar. Se tiver o “talento” necessário para isso, basta adotar um nome de fruta e arranjar um bom contato que a coloque nos interessantíssimos programas de sábado à tarde na televisão aberta. A lente olho de peixe e o ângulo já consagrado em baixo das saias realçarão o “potencial artístico” que uma fotografia menos intimista poderia esconder.
E que importância tem esse “bom contato”; alguém que saiba o telefone de alguém, que conheça um, que trabalha em tal lugar, que é amigo de outro, que pode tentar chegar o mais perto possível do ser iluminado que vai conceder a fama tão cobiçada para o até então desconhecido. Depois do demorado processo, tem-se cerca de um mês para elaborar um espetáculo de 30 segundos. O horário é “nobre”, claro, por isso; escasso. Caso trate-se de literatura ou música, o procedimento é diferente: o apresentador balofo do programa dedicará cerca de meio segundo, ou quem sabe até segundo inteiro divulgando sua obra, juntamente com mais 33 sucessos da nova ordem artística. Para os desesperados que esgotaram todas as possibilidades de estrelato nesse horário, a esperança agora pode ser depositada nos herdeiros dos famosos frustrados: com uma câmera amadora, grava-se seu filho, de óculos escuros, trocando a mamadeira pelo microfone, ou simplesmente chutando o saco de seu pai enquanto treina para ser o novo fenômeno do futebol.
Porém, para os que levam a sério a máxima de que o brasileiro nunca desiste, ainda resta a heróica opção. Mas ela é tão difícil de acontecer, tão difícil, que só pode ter a predestinação ao estrelato como explicação aceitável. A questão é estar, como todo bom início de carreira, no lugar certo e na hora certa. Em outras palavras, no avião certo e na hora final. A passagem sem volta é somente para os sortudos que com o fim de suas vidas alcançarão a glória da reportagem de última hora, do especial no horário nobre, da comoção nacional. Os segredos por trás do desastre tomarão conta das discussões de esquina, das revistas de fofoca, dos comentários oportunos da falta de assunto. Enfim, findados todos os ganchos para os próximos capítulos do drama, aí destacando-se a caça a caixa preta, o quebra cabeça encantador desenvolvido e publicado pelos especialistas em computação gráfica a cada pedaço encontrado, assim como posteriores filmagens de enterros simbólicos; tudo será reunido e reconstruído cenograficamente, nos mínimos detalhes, para homenagear e confortar as famílias das mais novas celebridades garimpadas por nossa atenta mídia. Eis a fórmula certeira da fama.